terça-feira, 2 de novembro de 2010

London, london...little london


Essa semana encontrei um rapaz chorando na rua. Ele pedia desesperadamente que alguém levasse sua filha adoentada ao hospital mais próximo. Ninguém lhe ouviu. Todos tinham certeza de que se tratava de um golpe qualquer. Não víamos filha nenhuma.
A filha, segundo ele, estava na farmácia da rua de cima. Disse a ele que não poderia ajudar, mas corri até lá, apenas para me certificar do óbvio, de que não havia filha alguma.
Fui para casa assustada, um pouco pelo ocorrido em si, e muito com a qualidade artística do rapaz. As redes de televisão estão deixando escapar esses jovens talentos pelas ruas das grandes cidades.
Quando consegui me acalmar, entristeci novamente. Não compreendi o que era pior nessa confusão toda. Chateei-me, claro, com a existência de um mentiroso como aquele sentado por aí atrás da carteira, ou sei lá de mais o quê, de uma pessoa caridosa qualquer. Mas o fato de ninguém sequer olhar para o sofrimento alheio, nem ao menos se preocuparem em verificar os fatos, isso também me preocupou. Ir até a farmácia foi um passo tão simples. E se houvesse mesmo uma criança por lá chorando compulsivamente de medo e dor?
Fiquei surpresa com a facilidade com que julgamos as pessoas sem nem ao menos ouvi-las. Fiquei mais surpresa ao verificar que, grande parte das vezes, estamos certos em nosso julgamento precipitado. O que não exclui nossa responsabilidade em verificar os fatos, creio eu.
Liguei para a polícia. Não voltei para conferir o restante da história.


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