terça-feira, 22 de abril de 2008

Questões filosóficas!

Acordei, cara amassada, olhos inchados, má vontade... Parecia ser um dia comum, assim como fora ontem e anteontem também. Mero engano!
Ao chegar na sala de aula a bomba estava estampada no quadro havia alguns minutos, em letras maiúsculas para não deixarem dúvidas à respeito da mensagem: PROVA HOJE!
Tremi, como poderia ter esquecido algo assim, prova? Respirei fundo, pensando positivamente, me acalmado aos poucos, tentando arejar as idéias e promover uma maior oxigenação cerebral, inspira, expira, inspira, expira!
- Ora bolas, não pode ser nada tão difícil assim, caso contrário eu teria anotado na agenda para estudar – pensei procurando achar uma desculpa para minha gafe educacional – deve ser com consulta, isso mesmo, não anotei nada porque é uma prova com consulta, provavelmente algum poema para podermos analisar, com certeza é isso... Epa! O que é aquilo anotado mais abaixo no quadro?
Coloquei os óculos para poder enxergar melhor as palavras que seguiam aquele aviso, foi quando o desespero maior tomou conta de mim como se uma corrente de ar extremamente frio tivesse entrado pela fresta da porta: Relacionar o tema com as questões filosóficas.
- Tô ferrada! E agora? eu sabia que não devia ter faltado naquela aula...eu sabia, quais era as malditas questões filosóficas daquela época? Bem...sejamos racionais, já que não fomos muito assíduas às aulas – eu tentava dialogar com minha consciência - qual era o contexto histórico? Claro! Como não pensamos nisso antes – tagarelava ainda sozinha comigo mesma – é o renascimento, certo? Então eles estavam preocupados com o quê? Isso mesmo, como o racional, com explicações racionalizadas.
Um pouco mais aliviada e surpresa com minha rapidez de raciocínio, peguei uma folha em branco e comecei as tecer algumas divagações a respeito da vida e da existência humana.
- Vamos lá, quem nasceu primeiro o ovo ou a galinha? O ovo claro! A célula mãe deve vir antes...mas talvez para eles a célula mãe não fosse assim tão importante, afinal eles são renascentistas, contestam as idéias religiosas, é verdade, como não pensei nisso antes? Para esses pensadores - vou escrever assim na prova para não parecer que inventei - para esses pensadores a galinha vem antes do ovo, visto que – boa, vou colocar lá uns três “vistos que” – visto que eles prezavam o ser, o homem, o racional e não o divino, portanto não a célula mãe que poderia muito bem ser associada à figura divina.
Virei a página, correndo contra o tempo e logo comecei a próxima questão. Pensei claramente nos fatos e na ordem a seguir. Ponderei que como havia tratado do nascimento deveria tratar da jornada terrestre chamada vida, lapiseira a posto, lá fui eu.
- Quem sou? – anotei no inicio da linha e respondi com prontidão logo em seguida – Você é um homem renascentista, provavelmente um escritor ou um filósofo questionador das causas metafísicas. Essa foi mais fácil, vamos para a próxima. De onde venho? Bem isto já foi discutido implicitamente na história da galinha, não...calma..muita calma, não estou querendo dizer que você veio da galinha, não pense isso, por favor, estou apenas reafirmando que o homem do renascimento vem da ciência, visto que – ufa! O segundo “visto que” – visto que vocês são todos ateus, então vocês não vieram de Deus, a célula geradora, assim como a galinha não veio do ovo – uma comparação, muito bem pensado, está ficando muito bom. Seguiremos em frente, qual seria a próxima pergunta...já sei! Para onde vou? Ora, pois se você é um renascentista do séc. XV, no máximo séc. XVI, você provavelmente irá para um cemitério no fundo de alguma igreja, se você for um pensador rico terá um túmulo só seu, com uma lápide e uma frase filosófica lapidada nela, no entanto se você for um pensador pobre será jogado com tantos outros corpos, alguns filhos da ciência como você outros vítimas dela, dentro de uma vala comum.
Olhei rapidamente o relógio, faltavam cinco minutos para a tal da prova começar e eu precisava de pelo menos mais uma reflexão a respeito do assunto, estava obstinada em tirar uma nota razoável, olhava fixamente meu caderno procurando informações no meu cérebro altamente oxigenado, não olhava sequer para as pessoas que começavam a entrar na sala. Segurei firme a lapiseira, respirei fundo, a idéia estava vindo quando de repente a professora entrou, tão calma, pronta para tentar me enganar naquela prova safada que eu sabia tinha sido marcada bem no dia em que eu havia ido ao médico, mas eu estava acima dela, não estudei em casa mas consegui acessar meus conhecimentos prévios, meu raciocínio lógico e estava pronta para tirar um belo dez...
- Ué? Carol, por que ela está apagando o quadro? – perguntei para minha vizinha de carteira.
- Para passar a matéria dela, ou você quer que ela escreva por cima do aviso de prova do curso de filosofia de ontem à noite?
- Que droga! – pensei – ela sacou que eu ia tirar um dez!

segunda-feira, 14 de abril de 2008

Justiça?

Essa semana assisti algumas vezes aos programas da TV, em alguns momentos foi por excesso de tempo, em outros por falta do que fazer, algumas ainda foi questão de estar no local certo na hora certa, o fato é que finalmente acompanhei alguns dos entraves semanais.
De todas as reportagens que vi duas, que alias vieram em seguida uma da outra, me chamaram a atenção. Não é novidade para quase ninguém o assassinato da menina de cinco anos, não entrarei em questões com relação ao culpado, não é essa minha proposta. Todos sentiram muitíssimo a morte cruel da menina, e é nesse sentimento compartilhado pela maioria da população que está a matéria que vi no jornal.
A matéria trazia um psicólogo que falou exatamente dessa comoção geral e do que as pessoas fazem em suas vidas a partir de todo esse enternecimento. Dezenas de pessoas que nunca tinham sequer ouvido falar na menina de repente protestam, se exaltam, passam horas em vigília, mal se alimentam, fofocam, mudam suas vidas por conta de uma pessoa desconhecida. Desse evento nós podemos tirar duas observações principais, a primeira, a grandeza de pessoas que se locomovem de seus lares confortáveis para manifestarem-se e chorarem por um desconhecido; a segunda, a imensa falta do que fazer dessas pessoas que, por maldade ou não, transformaram toda a dor e o desespero dessa tragédia num grande circo.
A matéria transmitida logo após a essa trazia uma repórter em frente a uma delegacia na qual alguns dos 17 prefeitos presos por liberação irregular de verbas do fundo de participação dos municípios estavam. A repórter transmitiu calmamente a noticia de que eles seriam soltos junto com todos os outros presos acusados do mesmo esquema, entre eles um juiz federal.
A frente da delegacia estava com pouca movimentação, ninguém protestava, ninguém estava indignado com a impunidade brasileira, não havia nenhum berro por justiça.
É muito obvio que os dois casos mechem conosco de forma diferente, todos nos sentimos mais doloridos e indignados quando vemos a situação nua e crua, com um agravante maior quando falamos de crimes cometidos contra crianças, como no caso do João, o menino que preso pelo cinto de segurança foi arrastado seis quilômetros, ou o caso de Isabela, que acompanhamos a cada dia.
Mas quantas crianças morrem por dia em nosso país vítimas do descaso político, vítimas da impunidade, vítimas de causas invisíveis que geralmente caminham lado a lado com a pobreza.
Não soa absurdo que algumas pessoas mudem suas rotinas por conta de um acidente e deixe que outros 17 saiam sem ao menos levarem consigo uma vaia, um grito de repreensão? Não soa absurdo que ninguém mais se lembre do menino João nem da pequena Madeleine? Não soa ridículo que ninguém se dê ao trabalho de descobrir os nomes das crianças que morreram vítimas da dengue no Rio de Janeiro?
Mas talvez eu esteja apenas criando uma trovoada de absurdos em meio a um belo dia ensolarado, propicio para assistirmos do lado de fora da casa de Isabela sua família entrar e sair.