segunda-feira, 31 de março de 2008

Domingo na feira!

Domingo é um dia engraçado, mesmo para as pessoas que não são religiosas ainda assim parece-me que o domingo é um dia “carismático”, se me permitem a palavra.
Não é necessário acordar muito cedo para sentir que há algo diferente a respeito daquele dia. Talvez seja essa atmosfera familiar própria do dia que nos faz agradecer a chegada do domingo, esquecendo ingenuamente que no próximo amanhecer será segunda-feira. Domingo é dia de ir à missa, que num ato de rebeldia pueril teimamos em cabular, é dia de almoçar com a família, mesmo que seja uma família composta de amigos, escolhida a dedo, é dia de não fazer nada, até a TV não faz nada nesse dia, ao menos nada que preste, mas tudo bem, afinal de contas é domingo.
Domingo desses fui à feira, fazia anos que não passeava à toa pela feira, tudo tão colorido, com aromas frescos, com cara de domingo. Comi uma pastel lá pelo meio da feira, e pedi uma Sodinha para acompanhar, santa ingenuidade domingueira, a sodinha veio enlatada! Tudo bem...hoje passa. Pouco a frente vi um carrinho azul, com várias garrafas cheias de líquidos coloridos penduradas ao lado, um bloco de gelo no meio do carrinho e dois passos depois eu já estava comprando uma raspadinha, aquela mesma da porta do colégio, mas essa estava melhor que aquela, esta era a raspadinha da feira de domingo.
No final da rua estavam algumas barraquinhas vendendo flores, e perdido no meio delas os portões escancarados do cemitério. Passei por ali com uma indiferença qualquer, e notei que todas as outras pessoas, até as que entravam pelos portões, também o faziam assim. E não haveria de ser diferente, não em uma linda manhã de domingo.
Virando a esquina a feira acabou, e meu companheiro nessa aventura dominical se espantou com prontidão:
- Já? Nossa, quando eu era criança essa parecia a maior feira do universo, acreditava que nunca chegaria ao fim dela, muito menos tão rápido assim.
Eu ri da inocência dominical de meu companheiro, demos meia volta, começamos a repassar por toda a feira e nos encantávamos novamente com tudo o que encontrávamos, a frustração passou rapidinho, mesmo porque era domingo, não é dia para se frustrar, deixe isso para a segunda-feira!

terça-feira, 18 de março de 2008

Cativou, sim! Mas não abriu a janelinha do avião para gritar seu nome.

Era um chapéu, ou uma jibóia que engolira um elefante? Seria de um asteróide, quem sabe mesmo do B 612, ou seria ele invenção, produto do sol forte do Saara? Não sei bem ao certo. Apenas me lembro que seja pela terra dos homens, seja em uma ilusão interplanetária, Saint- Exupéry gostava mesmo era de voar sob desertos, jamais fora muito fã de mares, mergulhar não era seu passatempo predileto, e há 64 anos foi a água que amorteceu seu “mergulho”.
O avião em que estava foi derrubado por um piloto alemão, o qual jura de pés juntos que não sabia ser o escritor o derrubado, de quem, aliás, era muito fã. Chegou ao cúmulo de afirmar que caso soubesse se tratar de Saint, não o teria atingido.
Acho que o escritor francês ficou, quase, muito feliz ao saber dessa intenção de Rippert, o piloto alemão. Talvez tivesse massageado o ego intelectual de Saint saber que bastava abrir a janelinha e gritar “Je suis Saint- Exupéry”, e isso lhe pouparia o “banho de mar”, pobre dos outros pilotos abatidos pelo mesmo alemão, nem esse apelo da fama tiveram, morreram sem poesia em suas vidas, sem remorsos por parte do germânico.
Remorsos, digamos nós, muito bem superados, posto ter guardado o segredo debaixo do travesseiro por tantos anos e em momento algum perdido o sono, ou quem sabe o tivesse abalado tanto a culpa por tamanha perda que preferisse não comentar? Não sei ao certo, difícil dizer, teremos de esperar o livro que virá nos contar parte a parte o ocorrido.
Talvez a revelação da não intenção de derrubar o escritor faça algum sentido afinal de contas. Derrubar qualquer outra máquina não o consternaria tanto, pois apenas aquele um o havia cativado, sentia-se responsável apenas por aquele um, e se nem a raposa atacou o pequeno príncipe, que por sua vez conservou em uma redoma sua rosa, por que haveria Rippert de querer atacar Saint- Exupéry?

segunda-feira, 10 de março de 2008

Passou que nem vi!

Programas na TV, passeatas, reportagens especiais, bombons nos sinaleiros, flores no mercado, mas sejamos honestas, passou que nem vimos o dia da mulher acontecer.
Não vimos, umas porque trabalhavam naquele exato momento, outras porque dormiam, ao guardarem o sono dos filhos, ou suspirar pelo ronco do marido.
De certo uma legião lavava as calçadas desse mundo, enquanto outra legião protestava contra o gasto abusivo de água.
Sendo ainda, bem provável, que algumas estivessem a fazer as unhas, e tantas outras a roer-las de raiva.
E assim passou que nem vimos acontecer, e o dia oito acabou, com a mesma rapidez que o leite havia findado, e a roupa limpa também.
Ora pudera, nem é feriado nem nada, não move comércio, não financia shows, não suscita gastos, não deixa de ser apenas mais um dia como outro qualquer, afinal qual o propósito de comemorar a queima dos sutiens na era dos moderníssimos “sem costura” e que liberam hidratante pouco a pouco?
Qual a razão de celebrar a independência feminina justo na época em que cada vez mais mulheres se vêem escravas do espelho e do bisturi?
E como ser feliz com a igualdade de gêneros em uma sociedade na qual a mulher ainda trabalha três turnos e ganha menos que o homem?
Igualdade de gêneros coissíma nenhuma, o homem sempre será prosa, a mulher é mais poesia. Dia oito porcaria nenhuma, pois eu decreto que é hoje o meu dia!

segunda-feira, 3 de março de 2008

Quem são nossos heróis?

Não faz muito tempo recebi um e-mail com essa exata pergunta: “Quem são seus heróis?”, abri a mensagem ainda com a idéia de que se trataria de mais um daqueles e-mails sobre super-heróis do passado, desenhos animados da década de 80, mero engano.
A mensagem dessa vez trazia a frase que Pedro Bial solta, noite após noite, Big Brother após Big Brother, para introduzir-nos ao mundo da “casa de vidro”: “Vamos espiar nossos heróis!”, e logo em seguida vinha a indagação maior do escritor da mensagem eletrônica: “Nossos heróis? O que fizeram de tão interessante para ganharem esse título?”.
Não me contive em pensar no que caracteriza um herói, seria uma roupa engraçada, uma capa, a habilidade de salvar o mundo ou o amor infindo em seu coração? Há tempos atrás heróis, bem vistos e admirados pela população, eram os intelectuais, imersos em seus livros e, em outras épocas, dispersos em discussões emblemáticas nas mesas dos bares, cheios de teorias filosóficas sociais e descobertas cientificas.
Com suas equações matemáticas fizeram o homem voar, se comunicar por meio de ondas invisíveis, fez-se a luz, criaram novas religiões, ideologias de tamanho peso sócio-cultural que são seguidas e respeitadas até os dias atuais.
Os heróis/intelectuais eram os rebeldes de seus respectivos períodos, no entanto, a despeito dessa rebeldia, refletiam um ideal coletivo, foram à frente de seu tempo por enxergarem necessidades já existentes, mas que os olhos “destreinados” da maior parte da população não conseguiam perceber.
Hoje, para nós meros mortais, ligar nossa telinha de “realidade virtual” em uma discussão política ou um documentário a respeito das mudanças sociais soa ridículo, sem propósito, verdadeira perda de tempo ficar prostrado em frente a TV para assistir discussões as quais “não pertencemos”, muito mais proveitoso nos embrenharmos pelo quintal das casas dos “reality shows”.
E talvez Bial esteja certo, parcialmente certo, calma, abaixem as armas que eu explico. Talvez ele esteja certo em chamar os confinados na “casa de vidro” de nossos heróis pelo simples de fato de que chama-los assim não os tornam heróis de verdade e, nunca na história do mundo um herói verdadeiro, nos moldes antigos, foi assim denominado em vida, ao menos não pela população em geral. Os heróis/intelectuais tanto não foram reconhecidos que na inquisição muitos foram queimados a mando do próprio povo.
Dessa forma, notamos como a história se repete, e Bial é um fruto dela, um representante do povo, e não dos intelectuais, por isso ele promove, junto ao restante da população, a ascensão de heróis de papel, enquanto nós, inquisidores, queimamos diariamente heróis/intelectuais cada vez que mudamos de canal e escolhemos o “reality show” ao invés da discussão política, da entrevista com um literato, do filme realmente bom, mas sem o selo de Hollywood.
Afinal, como já mencionei, a história é cíclica, e seria assim independente das afirmações inúteis do Pedro Bial.