
De todas as reportagens que vi duas, que alias vieram em seguida uma da outra, me chamaram a atenção. Não é novidade para quase ninguém o assassinato da menina de cinco anos, não entrarei em questões com relação ao culpado, não é essa minha proposta. Todos sentiram muitíssimo a morte cruel da menina, e é nesse sentimento compartilhado pela maioria da população que está a matéria que vi no jornal.
A matéria trazia um psicólogo que falou exatamente dessa comoção geral e do que as pessoas fazem em suas vidas a partir de todo esse enternecimento. Dezenas de pessoas que nunca tinham sequer ouvido falar na menina de repente protestam, se exaltam, passam horas em vigília, mal se alimentam, fofocam, mudam suas vidas por conta de uma pessoa desconhecida. Desse evento nós podemos tirar duas observações principais, a primeira, a grandeza de pessoas que se locomovem de seus lares confortáveis para manifestarem-se e chorarem por um desconhecido; a segunda, a imensa falta do que fazer dessas pessoas que, por maldade ou não, transformaram toda a dor e o desespero dessa tragédia num grande circo.
A matéria transmitida logo após a essa trazia uma repórter em frente a uma delegacia na qual alguns dos 17 prefeitos presos por liberação irregular de verbas do fundo de participação dos municípios estavam. A repórter transmitiu calmamente a noticia de que eles seriam soltos junto com todos os outros presos acusados do mesmo esquema, entre eles um juiz federal.
A frente da delegacia estava com pouca movimentação, ninguém protestava, ninguém estava indignado com a impunidade brasileira, não havia nenhum berro por justiça.
É muito obvio que os dois casos mechem conosco de forma diferente, todos nos sentimos mais doloridos e indignados quando vemos a situação nua e crua, com um agravante maior quando falamos de crimes cometidos contra crianças, como no caso do João, o menino que preso pelo cinto de segurança foi arrastado seis quilômetros, ou o caso de Isabela, que acompanhamos a cada dia.
Mas quantas crianças morrem por dia em nosso país vítimas do descaso político, vítimas da impunidade, vítimas de causas invisíveis que geralmente caminham lado a lado com a pobreza.
Não soa absurdo que algumas pessoas mudem suas rotinas por conta de um acidente e deixe que outros 17 saiam sem ao menos levarem consigo uma vaia, um grito de repreensão? Não soa absurdo que ninguém mais se lembre do menino João nem da pequena Madeleine? Não soa ridículo que ninguém se dê ao trabalho de descobrir os nomes das crianças que morreram vítimas da dengue no Rio de Janeiro?
Mas talvez eu esteja apenas criando uma trovoada de absurdos em meio a um belo dia ensolarado, propicio para assistirmos do lado de fora da casa de Isabela sua família entrar e sair.
Um comentário:
hoje assistindo o jornal, fiquei surpreso com o show biznezz que já ta formado em torno desse caso da menina, até o bin Laden estava na porta da delegacia, querendo um cantinho para aparecer na tela do plin plin. Enquanto isso em Brasilia...a isso a gente resolve depois.
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