domingo, 5 de dezembro de 2010

Ela

Foi tudo muito confuso e muito corrido. O que para nós pareceu durar horas, não chegou a 30 minutos de medo e angústia. Eu ouvia os pedidos de ajuda emaranhados aos gritos de dor. Ela gritava meu nome esperando que eu soubesse exatamente o que fazer. Pedia-me insistentemente que o salvasse, e eu não podia fazer nada além do que já estávamos fazendo.


Naquele dia, passamos do riso gostoso e molhado do dia de verão ao choro incontrolável. Entrei em choque. Hoje consigo contar o que aconteceu, mas cada um de nós acabou capturando um detalhe particular... passamos pela mesma dor, mas cada um de uma maneira diferente e, no final do dia, temos mais de uma versão dessa mesma história.

Para mim, eu não fiz nada. Fiquei calma, eu me lembro, tentei ajudar da melhor maneira possível, mas não me recordo da minha calma ter sido útil... eu não sei ao certo o que fiz de bom e de ruim nessa grande confusão.

Ela, e disso tenho certeza, se atirou ao chão e dentro de seu desespero salvou uma vida. Ela não sabia o que fazer, estava tão assustada quanto o restante de nós, mas não pensou...agiu. E, nesse momento, eu a admirei.

Aquela pessoa sempre frágil e de fala mansa, que passou anos ocupando-se dos problemas alheios, ela foi forte. Ontem, conversando à toa, disse que agiu por impulso e por amor. Durante essa semana, ouvi de tudo. Teorias absurdas sobre o que aconteceu, gente tentando entender o que não viu, e nós, cada um com sua versão dos fatos, tentamos explicar para os outros tudo o que vimos, mas que não entendemos.

Ao final de tudo, as confusões são muitas. Dentro dos ônibus as histórias rolam soltas. Entre os familiares as versões se multiplicam, hoje já nem sei quantas são. Mas a verdade é que ele está bem. Ela está cansada. Ele está confuso. E eu ...descobri que no dia em que mais sofremos, eu a admirei um pouco mais.

2 comentários:

Wanessa Priscila disse...

Essa foto ai do lado é a sua sombra e do Jão ne?

meucomtexto disse...

Sim senhora...somos nós dois!